Acredito que a tática está por cima da qualidade individual
do jogador, e mais que estudado, como está o futebol, amanhã será um grande dia
para dois treinadores que o merecem. Devia mesmo haver duas taças, só para eles,
até porque em coletivos tão fortes como mostraram ser, Bayern e Dortmund chegam
à Final da Liga dos Campeões com estrelas maiores, os seus treinadores.
Jupp Heynkes, 68 anos, uma velha raposa do futebol europeu,
atinge mais um final europeia para o seu vasto curriculum. Este Bayern é uma
equipa que prima pela simplicidade. Quando vejo Neuer com a bola nas mãos sei
que vai sair a jogar na defesa, que estes a vão entregar aos criativos com o
objetivo de a fazer chegar aos alas ou ao Muller, para depois a entregarem ao
ponta-de-lança que a encosta lá para dentro, seja Gomez, Mandzukic ou Pizarro.
Ou seja, o Bayern pega na bola com a ideia de a meter na baliza, só isto, fácil.
Começam o processo ofensivo com a certeza que vão fazer golo. Nem todas as
equipas fazem isso, é verdade. Há aquelas que esperam na defesa pelo erro do
outro, há quem troque a bola para desgastar o adversário, há os que tentam e
não têm qualidade. Do meu ponto de vista, neutro, não há estilo mais simples
que este.
Jürgen Klopp, 45 anos,
acaba de chegar à ribalta do futebol. Já lhe era reconhecido o mérito das suas
inovadoras técnicas de trabalho, mas só agora tem relevância mundial. Preparou
e consolidou o sucesso da presente época com dois anos a vencer internamente (bicampeão),
e, surpreendentemente ou não, volta a colocar o Dortmund numa final europeia, dezasseis
anos depois. O futebol praticado pelo Dortmund assenta numa mistura entre
paixão, tática e rebeldia daquela garotada. Dá-me um prazer enorme ver jogar
uma equipa que não entendo quais são as posições de 4 ou 5 jogadores, e isso
faz-me pensar que o treinador é um génio.
Desta forma, estarão
frente-a-frente as duas melhores equipas do momento. Não me lembro de uma final
da champions tão justa e merecida, e até mesmo, consensual. Primeiro pelo
trajeto desde a fase de grupos, segundo pelo futebol praticado ao longo do ano,
terceiro pela pujança física que apresentam neste final de época, e por fim,
por eliminarem os dois colossos espanhóis, com quem toda a gente ansiava ver na
grande final.
E por falar nos
espanhóis, entenda-se Real e Barça, esta final já é uma vitória antecipada para
o futebol. Não falo do confronto Alemanha e Espanha, mas sim de toda a
envolvente ao futebol, desde os media às politicas de UEFA e FIFA. Quando o
futebol parecia estar limitado a Real e Barça, eis que aparecem os alemães,
cheios de alemães (sejam turcos ou polacos, não interessa, cresceram e foram lá
formados), para destruir duas grandes equipas.
Quando tudo se resumia
a Real e Barça, em que cada pessoa tinha de escolher um lado e não tinha
sentido dizer “ganhe o melhor”, esta final faz-me acreditar que poderá vir a
ser a melhor dos últimos anos. Não sei quem irá ganhar, nem sei se o jogo vai
ser aquele espetáculo que toda a gente espera, é possível que não.
Vou ver o jogo de uma
forma saudável, já nem sei o que é isso com tanta emoção nos últimos tempos.
Apesar de ter uma preferência, quero mesmo que “ganhe o melhor”.